[x_text class=”justify-text “]“Folia é um substantivo que quer dizer folgança ruidosa, pândega. No Dicionário Aurélio, especifica-se que no Brasil pode querer dizer “grupo de rapazolas, vestidos de branco, que pedem esmolas para a festa do Espírito Santo ou dos Reis, e cantam ao som de violões, cavaquinho, pandeiro…”. Na Península Ibérica, ecoa uma “dança viva, ao som de pandeiro, adufe e canto”.

Pensei a Folia como uma derivação do festival literário Folio, aberto como um livro ou um instrumento musical, que descai, e contagia um cortejo folgazão. Trabalhei sobre algumas raízes deixadas pelo Nuno Artur Silva, que começou o projecto e no final o assina comigo, acrescentei outras, pensei/pensámos em declinar programas que tivessem que ver com os temas do festival. Os 450 anos do Rio de Janeiro, os 40 anos sobre a Independência de Angola, Moçambique e Cabo Verde, os 100 anos da revista Orpheu, o Ano Internacional da Luz.

O programa inclui música, teatro, cinema, exposições, aulas, maratonas de leitura, muitas sessões de conversa fiada. Os artistas celebram o triângulo Portugal-África-Brasil, os autores que admiramos e nos inspiram, têm como mote a pândega. Vão apresentar, quase sempre, uma intervenção original, criada propositadamente para a Folia. Cruzam o seu universo particular com o dos temas do Folio, com a literatura.

No que é que isto dá? Em António Zambujo a cantar Caetano Veloso, Cristina Branco com o Trio de Mário Laginha a cantar Chico Buarque. Uma exposição de André Carrilho e Pedro Loureiro com retratos de escritores. O Moreno Veloso e o Tomás Cunha Ferreira a fazer um eixo Rio-Lisboa (como uma célebre padaria da cidade maravilhosa), poesia pelo meio. O Diogo Infante a interpretar a “Ode Marítima” e o plural Fernando Pessoa. O Kalaf e o músico angolano Toty Sa’Med numa viagem pela poesia angolana dos anos 60 e 70 (entre a poesia e as canções revolucionárias). O Abel Barros Baptista a ensinar Machado de Assis, o Carlos Mendes de Sousa a ensinar Clarice Lispector. O Gregorio Duvivier, não no registo Porta dos Fundos, mas num espectáculo de stand up poetry.

O programa é extenso e detalhado a seguir. Com estes destaques quisemos apenas dar uma ideia de como vai ser a música. A harmonia, que pode sempre ser enriquecida com nova e diferente instrumentação, é esta. Mas a dança é sua também. Vestido de branco ou não. Em qualquer caso, é indispensável conjugar o verbo “foliar”! “

Anabela Mota Ribeiro
Curadora FOLIA

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