O tempo habita as coisas e nelas transforma esta forma que temos de as viver; esta roda viva em que nos deparamos, esperando que o tempo preencha de cor as memórias em que nos afundamos no passar dos dias. Submergimos para viver de novo a cada batida, em cada nota atirada, no movimento do corpo, no rasgo de luz que se fixa no olhar; numa FOLIA presente, que nos pressente e se instala.
FOLIA no palco que vibra de emoções. FOLIA na poesia que se declama no jardim. FOLIA na cena que passa no écran. FOLIA em percurso pela rua e nas paredes da Vila. E em tantos outros sítios e horas, numa boémia que embriaga de letras e notas, de saber e não saber, e nos retém no tempo, por instantes, sem medo de viver as coisas que existem.
Org.: Fundação INATEL e Óbidos Criativa
Alexandre Ferreira
Óbidos Criativa E.M.
Curador FOLIA
2019 é o ano em que a Fundação INATEL conta já quatro anos de parceria com o FOLIO. Uma parceria, que começou timidamente no ano de 2016, e que, hoje, se assume num plano de coorganização do evento e na responsabilidade direta da FOLIA e do FOLIO MAIS.
No que respeita à FOLIA, a Fundação INATEL programou-a desafiando músicos portugueses cujo o poder da palavra e do gesto seja transmissor de uma ideia de movimento perpétuo renovado, que alia o velho e o novo, que dá uso ao desuso, que confere modernidade ao hábito, que desenvolve e devolve a memória de antigas formas em novas perspetivas e olhares.
Este devir segue na senda do seu dever, já de 84 anos de vida, em que a Fundação INATEL promove em todo o território nacional um reforço da relação de confiança que desenvolveu historicamente com a sociedade portuguesa, a qual se expressa na ampla e diversificada base associativa vinculada à mesma, neste caso a Associação Sociedade Vila Literária de Óbidos. Ao mesmo tempo, observa na sua ação profundo respeito pela tradição cultural popular portuguesa, que procura preservar em toda a sua autenticidade conferindo-lhe, sem pudor, laivos de contemporaneidade.
O Programa da FOLIA compreende vários géneros musicais e diversas paisagens sonoras.
Dentro de uma área de fortes raízes conservadoras e tradicionalistas como é o Fado, Cristina Branco, que inaugura, a 10 de outubro, a FOLIA e o Palco INATEL, apresenta-nos um espetáculo cimentado em poetas eternos-clássicos, compositores requintados e músicos de excelência num trilho único traçado entre a sofisticação, tradição e inovação. A 11 de outubro, Omiri, um projeto de Vasco Ribeiro Casais, faz-nos uma proposta arrojada em que o cenário é a tela de projeção. Fazendo uso das gravações de Tiago Pereira, Omiri é, acima de tudo, mistura, cultura do século XXI, harmonizando num só espetáculo práticas musicais já esquecidas, tornando-as permeáveis e acessíveis à cultura dos nossos dias. O “Folk Impressionista” e as sonoridades dos Foles Diatónicos do quarteto Danças Ocultas, chegam-nos a 12 de outubro. Artur Fernandes, Filipe Ricardo, Filipe Cal e Francisco Miguel, são o rosto deste grupo de inspiração camerística, do Novo Tango e de outras músicas tradicionais urbanas. A tarde de dia 13 de outubro, proporciona-nos uma viagem pelas Danças Tradicionais Europeias e Portuguesas e pela Memória dos Mercados Medievais, assentes na cumplicidade do Duo Recanto, com Hugo Osga e Sílvia Isabel.
Citando o Blitz “Diabo na Cruz ainda é um lugar de criatividade fervilhante. Vingam letras ricas e uma tendência irresistível para melodias que cumprem a função para a qual foram designadas: morar no ouvido até à próxima temporada”, é este grupo de Folk Rock que estará no Placo da FOLIA a 18 de outubro. A 19 de Outubro, um espetáculo de homenagem a José Afonso, uma ideia original da TRADISOM, nos 90 anos do seu nascimento. Davide Zacarias, Maria Anadon, João Afonso, Filipa Pais e Zeca Medeiros entoarão a memória do inesquecível Zeca. O Programa da FOLIA e do Palco INATEL encerra a 20 de outubro, com O GAJO. João Morais, liga a sua música à terra que o viu nascer, Portugal. É assim que surge a relação com a Viola Campaniça, um instrumento de raiz tradicional. Mas a sua, ganhou já novas tonalidades afastando-se da linguagem mais tradicional, mas mantendo intacta a sua Portugalidade. As composições d’O GAJO podem soar a fado, mas não são fado, podem soar a música tradicional, mas não são música tradicional, são um híbrido disso tudo e muito mais. O GAJO toca música do mundo.
Fica o convite da Fundação INATEL para que revisitando lugares de outros tempos, possamos criar outros lugares e outros tempos!
Francisco Madelino
Fundação INATEL