Mantraste – Uma Espécie de Livro

6 A 16 DE OUTUBRO
2.ª, 3.ª, 4.ª > 15h00 – 20h00
5.ª, 6.ª E SÁBADO > 10h00 – 21h00
DOMINGO > 10h00 às 19h00
CASA ABYSMO – ESPAÇO Ó

Colher os desenhos que a terra dá
Nenhum desenho pode ser descrito em palavras sem desintegrar a sua singularidade artística. Mas o inverso não é verdade: as palavras pedem desenhos. E nestes tempos inqualificáveis que vivemos, tão incertos no destino como na destreza do passo sobre o tapete a que os crentes chamam chão, alguém usa as palavras como pontes para voltar a olhar a terra através dos desenhos que nela semeou: Mantraste abre a programação da Casa Abysmo no FOLIO com uma exposição de desenho em formato editorial sobre o que a terra nos dá. Mas usando o traço para pensar (ou talvez meditar), Mantraste colhe da terra mais do que frutos óbvios. Poderia dizer-se que Mantraste procura descobrir – numa busca incessante – a linguagem própria da terra. E como em todas as linguagens, Mantraste indica-nos a primeira chave para a sua aprendizagem: a terra dá-nos metáforas.
Numa série de frases e desenhos escavados em cerâmica, Mantraste recolhe e representa (ou melhor, reapresenta, como que confere nitidez a uma mitologia própria) as expressões de quem trabalha a terra, o eterno homem rude do campo, as peculiaridades da tradição e sabedoria populares, os credos e medos, histórias do diabo, catástrofes que acontecem a quem trabalha em dias santos, e outras superstições de quem olha a terra como quem vê a morte e dela extrai os frutos para viver, mais, para saber viver. Já ouviste o coração de um pássaro?, pergunta-nos Mantraste.
Olhadas em conjunto, as partes que integram esta exposição (que podia – e poderá – ser um livro) organizam-se em narrativa orgânica, contando a história que tão frequentemente esquecemos mas de onde nunca conseguiremos sair (porque de uma forma ou de outra, todos vivemos da terra): A terra nos está devendo / e nós devemos à terra / A terra paga-nos em vida / nós pagamos à terra morrendo (Adriano Correia Marques). Mais vale viver esse processo sem pensar demais. Como bem nos lembra João Paulo Cotrim: não vás muito à tua cabeça.
É esse o caminho que Mantraste nos indica com a generosidade e talento que o caracterizam: ajuda os outros / aponta-lhes a luz / como quem aponta / um bom restaurante. José Anjos