Macabéa: Flor do Mulungu

11 ilustrações da artista Luciana Nabuco, que fazem parte do livro “Macabéa, Flor de Mulungu,” de Conceição Evaristo, publicado pela em 2024 pela editora Oficina Raquel. O livro é uma releitura da obra “A hora da estrela” de Clarice Lispector, em que Conceição Evaristo cria a sua outra Macabéa, uma mulher negra “em estado de floração”, um sopro de resistência que rompe com uma história de agressão e hostilidade.

(( sinopse do site oficina raquel: Conceição relê Clarice. “Se essa história não existe, passará a existir. (Clarice Lispector)”

Há quase 50 anos, Clarice Lispector publicou A hora da estrela, seu último e mais emblemático romance. Nascia então Macabéa, jovem nordestina, pobre e migrante, cuja vida era marcada por dores, silêncios e apagamento.
Agora, brota a Flor de Mulungu. Neste conto ilustrado, a premiada e incontornável voz da literatura brasileira contemporânea Conceição Evaristo revisita e dá novos contornos à Macabéa, em um manifesto literário que coloca a escrita como uma forma de fazer vingar a vida.
“A Flor de Mulungu não ia fenecer. Não. A posição fetal em que ela se encontrava era um indício de que uma nova vida se abria. Ela ia nascer por ela e com ela. Macabéa ia se parir. Flor de Mulungu tinha a potência da vida. Força motriz de um povo que resilientemente vai emoldurando o seu grito. ” – Conceição Evaristo
O olhar de Evaristo para esta personagem é realista, evoca a ancestralidade de Macabéa (e de todas as Macabéas que ali habitam) para costurar uma nova trajetória em que “Mulheres como Macabéa não morrem. Costumam ser porta-vozes de outras mulheres, iguais a elas”.))

“Eu nasci na Amazônia, no Acre, sou filha das beiras do rio e das encruzilhadas do Norte. Desde criança meu pai deixava que meus rabiscos e palavras ficassem nas paredes de casa, a sorte de ter tido um pai velho que acaba tendo uma imensa generosidade frente às peraltices da filha. Minha mãe nascida no seringal em Tarauacá aprendeu a ler aos doze anos de idade e se formou em Direito. Um dia apareceu em casa com tantos livros como presente de dia das crianças para mim. A vida é uma imensa sucessão de renascimentos. Eu me fiz artista desde a infância e continuei assim pela curiosidade que tenho pelo mundo, por travessias, pelos mergulhos nas sombras. A mulher reserva essa criação desde eras antigas na história da humanidade. Fomos criadoras da linguagem das artes rupestres, dos vasos de barros onde água e grão foram armazenados. E assim alimentamos o mundo. A Arte é um desses alimentos. É a raiz da escrita de Conceição, tão visceral e assombrosa e igualmente múltipla, que busquei emergir”.

“Eu costumo dizer que minha pintura é meu ebó. Ebó é troca, ritual de movimento de energia. Cada pintura é um ritual como olho d’água que brota da terra”
Depoimentos da artista Luciana Nabuco