Quando o mundo à nossa volta vai cedendo, pedaço após pedaço, temos uma tendência natural para nos agarrarmos à linha da vida, com mais instinto que racionalidade, com mais coração que cabeça. O mundo está assim. E nós, também assim, esfarelando por dentro e por fora. O planeta desconsolado vai abrandando e nós ficando quietos, a contar pedaços. Ao ritmo do coração, com o pensamento apertado.
Nesta vila literária, estamos INQUIETOS! Vamos colando pedaços, sem sequer os contar. Reconstruindo o mundo e reconstruindo-nos a nós mesmos, para que nada sossegue. Aqui que ninguém nos lê, suspeito que aquilo que nos segura inquietos, são os livros. Porque nos fazem voar além do espaço e do tempo. Porque nos deixam sonhar para lá do inimaginável. Há pouco tempo, aprendi
que os livros podem não ser a nossa salvação, mas sem eles não nos salvamos.
São eles, os livros, a nossa linha da vida. São elas, as palavras escritas, que nos tornam humanos, que nos educam o pensamento e acertam a memória, que nos inflamam a alma, que nos apontam um propósito. É ela, a literatura, que nos afirma como centelha divina, que nos doira o olhar, que nos dá cor à voz e nos ensina a ser grandes na microscópica dimensão do Homem.
David Foster Wallace, um professor e escritor norte-americano, gostava de contar aos seus alunos a história de dois peixes, ainda jovens, que foram nadando até encontrar um velho peixe que os saudou e perguntou como estava a água, ao que os dois jovens e perplexos peixes responderam – “Que raio de coisa é a água?”
Também nós quantas vezes ignoramos a “água” que nos envolve e sustenta a cada pulsar de segundo.
A literatura, a cultura, a educação. São moléculas que constituem o líquido primordial onde pairam as ideias que nos tornam Gente. Liberdade. Justiça. Solidariedade. Democracia. E muitas outras que vêm e que vão com as correntes da vida. Talvez falte Gente no mundo, assim como falta mundo a tanta gente.
Juntos e inspirados pelo espírito lusitano, inquieto claro está, que Camões eternizou e pela coragem e abnegação dos militares de Abril, possamos “foliar” os dias e noites de outubro que o outono teima em trazer a Óbidos. Ajudem a dar corda a este mundo admirável que nos é oferecido a cada instante, para que nunca pare. Estendam a mão a quem está mais cansado e desanimado, para que ninguém fique quieto e todos se possam perder página após página, nos incontáveis multiversos das palavras.
Obrigado, Sabina, Joana, José e tantos outros que com alegria e singular dedicação fazem o FÓLIO Educa. Até já!

Paulo Santos
Curadoria FOLIO Educa