A percepção da fragilidade da vida aumenta com o passar dos anos. A sensação de imortalidade da juventude é gradualmente assombrada e passamos a tomar decisões avaliando perdas e ganhos.

Ganhamos a consciência do risco, de o risco ser inerente à vida e a todas as atividades humanas.

Paradoxalmente, é o risco que atribui o sentido à vida. Sem risco, tudo seria permitido e nada teria valor.

Escolhemos o «Risco» para tema da nova edição do FOLIO, pela sua presença na vida e, claro, na literatura.

Foi o José Pinho, que tantas vezes (quase sempre) me surpreendeu, quem me anunciou o tema. Nesse exacto momento, senti o risco de ter de viver o FOLIO 2023 sem ele. Quando recebi a malfadada notícia, ganhei uma sensação de perda imensa, da qual ainda não me libertei. Duvido que alguma vez me liberte. Pinho é sinónimo de FOLIO. Dedico-lhe o programa de autores deste ano.

Como sempre, vamos reflectir e gerar desconforto. Este ano analisaremos a centralidade do risco nas ideias e na política. Para tal, voltamos a convidar romancistas, poetas, contistas, ensaístas e historiadores com diferentes perspectivas e opiniões.

Falaremos da família como factor de risco e porto de abrigo, de vidas de risco, da incerteza, do inacabado e do desejo, em especial quando realizado. Discutiremos grandes e pequenos riscos, a guerra, o futuro, a memória e a dificuldade de manter a coerência.

Abordaremos a perda do pensamento crítico e o silenciamento da crítica. A instrumentalização da cultura, que, uma vez capturada como justificação da acção política, deixa o seu plano superior e passa a ser instrumentalizada.

Discutiremos em especial o populismo e o perigo actual que ele representa para as nossas democracias.

Bom Folio 2023 para todos!

Pedro Sousa
Curadoria FOLIO Autores