“Antigamente é que era doce”, mais do que um recital de poesia é uma festa de quintal como acontece nos musseques de Luanda, Mindelo e Maputo, Um convite a olhar sobre as mudanças culturais que sucederam desde a saída das potências colónias de África através da poesia e também, um convite comemorativo dos 40 anos de independência, dirigido à nós que falamos português.
Kalaf Epalanga – Voz | Toty Sa’Med – Voz e Guitarra
E tudo começou com a poesia…
Luanda era, ao longos dos anos quarenta e cinquenta, era uma pequena cidade adormecida ao sol, nos arrabaldes do mundo, de que quase ninguém ouvia falar. A partir de 1961, a revolta armada contra o colonialismo português trouxe o nome de Angola assim como de Moçambique, Guine Bissau e Cabo Verde, para os noticiários internacionais e, paradoxalmente, foi também responsável por uma fase de extraordinário crescimento econômico e demográfico. Os países africanos de expressão portuguesa acordaram de um sono de séculos.
Enquanto estes países dormiam, contudo, aconteciam versos e canções. Muitos dos modernos movimento nacionalistas em África nasceram e organizou-se a partir de uma insurreição poética. Na verdade, tudo começou com a poesia. Tudo começou com as mais belas canções, os Sembas.
Kalaf Epalanga revisitou estas canções e estes versos e juntamente com Toty Sa’Med – resgataram poemas e canções que com o passar dos anos não envelheceram, antes foram crescendo, como as grandes árvores, enraizando-se no imaginário colectivo e tornando-se referências e lugares de visitação, à sombra dos quais as gentes dos PALOP vão, de tempos a tempos, refrescar e confirmar a alma.
Os versos talvez um pouco ingénuos, mas vigorosos e expressivos, verdadeiros retratos de uma época, de Viriato da Cruz, Osvaldo Alcântara, Vasco Cabral, José Craveirinha, Alda do Espirito Santo, António Jacinto, etc., São justapostos com os poemas de uma nova geração africana e ao som de velhos e novos Sembas.
J.E. Agualusa